Monday, February 27, 2006

clique no quadrinho se vc for homem

Saturday, February 25, 2006

vietnã-manaus


minha situação parece um campo minado na madrugada, mas também pode ser uma bobagem. Mesmo assim, na contra luz da cozinha, eu fico sentada no mesmo lugar, com chá de hortelã gelado e cigarros por perto. de repente não precisa de mais nada. no máximo me moverei até o som. talvez.
e eu mexo os olhos devagar, de um lado pro outro, depois escrevo. então, confesso, quando paro TUDO, sinto um pouco de medo de novo. mas hoje deu pra usar casaco. isso nos faz bem. todos sentimos frio antes que alguma coisa nos aquecesse. depois disso, algumas pessoas fingiam não ter frio, outras fingiam ter. eu tenho sempre tanta certeza de estar fazendo tudo certo, but in some point, i just mess myself. mas logo vai passar. tenho cicatrizado melhor, o coração gelado que ri não é só uma brincadeira de mau gosto. com o tempo vc percebe a pureza que há nisso. Somos todos mais inocentes do que o que fazemos. Por isso temos medo de dormir sozinho de noite. por mais inútil que possa parecer.
mas com o tempo, de alguma maneira, aprendemos a acelerar o processo de aclimatação. Sustentar o que se quer é dolorido, salvar-se é dolorido, por isso aprendi a amar as cores. andar deve PARECER em vão, nunca SER em vão. Apesar de não acreditarmos, nós respeitamos a estrada. Nós que ás vezes não sabemos bem o que fazer, mas continuamos seguindo, olhando por onde andamos.

Friday, February 24, 2006

por dois segundos

dentro da minha cabeça eu posso ouvir a música que eu quiser em qualquer lugar.
não que isso seja assim tão bom. músicas podem ser bem mais perigosas do que qualquer droga.
ainda assim, saio de casa, de cara, com sonic youth.
até parece que somos assim, tão poderosos.
até parece que não somos assim, tão importantes.
até parece que não somos assim, todos bestas em busca de bobagens.
até parece que as coisas não podem, um dia, serem assim, boas ou ruins.
na sexta-feira eu saio de casa pra ir trabalhar no horário e me amo por isso.
a minha cabeça dói um pouquinho, tudo muito controlável.
ontem era apenas quinta-feira e eu não fiz nenhuma besteira, há um feriado no caminho, mas as quintas-feiras são sempre os dias mais mais mais terríveis.
não sei se é pela imparidade simbólica ou por ser normalmente o primeiro dia da semana em que a gente começa a beber forte, se é porque o tédio já está mordendo os nossos calcanhares, se é porque temos que nos convencer & acreditar que vai funcionar o fim de semana.
porque temos que duvidar de tudo por dois segundos?

Wednesday, February 22, 2006

nem todas as fotografias do mundo


É obvio que por entre as frestas da veneziana você não pode ver tudo, mas basta pra saber o tom do pôr do sol.
Clarice pararia de fumar se isso fosse possível, não fugiria e também não estaria em estado de fuga se isso fosse possível.
Teria se apaixonado somente aquelas primeiras três vezes de quando se é jovem demais para qualquer conseqüência, depois chega. Depois tudo começa a ter cores demais pra tela de menos, o espaço de cada dia da vida não tem como conter tudo o que pode acontecer.
Não gosta de saber disso. Vai até a sala e repete a mesma música antes que ela acabe. Por um buraco maior da janela vê que no verde a luz das seis da tarde brilha muito mais bonito do que o olho de qualquer pessoa que existir.
Essa também é uma paixão na qual ela acha que exagera. Queria pintar aquela árvore como se ela estivesse viva como agora ainda está. Clarice tem esse problema de querer as memórias todas guardadas vivas e pra isso é preciso sangrar as mesmas feridinhas de tempos em tempos e se alimentar do que era antes.
Mas o segredo da sua idade é ir aprendendo a dosar quanto de cada coisa, e deixar fechar aquelas que já secaram. Não adianta ir tão fundo.
Clarice sempre pensa nas conseqüências do que diz. De ficar, de ir embora, de desligar ou não o ventilador. De apostar no que não deve pra se proteger de um prêmio pesado demais. Nas conseqüências ter esperado que chovesse durantes semanas, e de repente adorar o sol amarelando, pelas frestas, de onde não se vê tudo, mas com um pouco de boa vontade, se tem uma boa visão do que está por vir. Não é como amar um garoto dourado. De muito perto, só parece a morte violenta e boa do entardecer de um dia muito quente, é quando o deserto não precisa mais fazer sentido, quando o gelo queima porque árvores secas também são corpos com pecado no outono. É como amar o garoto que faz ouro do que precisa ser digerido. É como quebrar uma agulha. O garoto que faz ouro não pede licenças, ele as merece, sem ter crime nenhum nisso. Só por ter andado um inverno inteiro sobre os trilhos do trem e ter aprendido a paisagem, o garoto que faz ouro descobriu de onde o sol tira o dia seguinte. Quando ela crescer ele amaria. Alguma coisa nela. Ou alguma coisa atrás da cortina. Ele sempre está lá. E esse é mais um conto indiano, que começa num lugar pra terminar em outro bem diferente.

CARNIVALIA - daqui há uma semana


todos tem seus próprios perseguidores. quando é fofoca, é culpa da hora e da nossa boca destravada quanto mais travo pra dentro.
Sissi só quer mais uns amigos, não importa o que. passar por cima de si mesma é o de menos. desde que possa se servir de mesa, de tapede, de base, de mão, de cigarro escondido, de papo demais, de tantas histórias, de desculpa, da pior de todos nós, desde que acabe em risada. as vezes em que ela está com a gente, ela está mais, pelo telefone pelas bocas pelo que não está, ela sempre está. ela prefere isso a qualquer homem. eu acho que hoje em dia ela só se apaixona pra ter o que contar.
Todos nós somos seus amigos, no fundo. Bem no fundo. Daqui há uma semana ela vai estar esperando e agendando os acontecimentos da próxima semana.
Special K é sua amiga como todos nós. Mais de ninguém. Ela está sempre na outra ponta do telefone, escondida num quarto escuro pra guardar o cabelo limpo, ela quer ir embora mas não sabe bem porque não ficar, enquanto ouver um garoto que valha a pena. Já foi mais bonita do que podia entender - como menos obviamente, todos nós passamos por isso em alguns instante pequeno. Mas Special K foi tão alto quanto queria ser tão pequena. Hoje ela perdeu um pouco a noção do tamanho. Eu gosto dela porque nesse ponto nós somos iguais. Sempre se adaptando ao recipiente que puder nos conter, e vazando, ou secando, sem pudores logo depois. Daqui há uma semana ela vai estar decidindo não se arrepender de nada do que fez no feriado. Vai chorar pelos motivos errados, depois escolher uma calça e sair de casa pra fumar um cigarro.
Kali é pequenina. Poderia ser amada pelos melhores porque, no fim das contas, tirando as sobras e as arestas, ela é boazinha. Só que aí não sabe o que fazer com a vontade de viver. Ela só surta discretamente. Sem que o rímel escorra mais do que um borrão bonito, mas ela sempre parece que tem doze anos demais pra maquiagem. É incrível como os olhos de alguém podem se parecer tanto com pés pequenos. Kali entra nos carros dos homens que ama sempre com medo, mas nunca desistiu por isso. Nunca desistiu por isso, mas não ama tanto assim. Eu nunca ouvi essa palavra na boca dela. Como se fossem letras demais. Como se fossem macias demais. Kali gostaria de botar sua cadeira na encruzilhada e decidir que esse é um caminho. Com o tempo fumaria mais e venderia limonada. Com o tempo passariam pessoas por ali. Com o tempo ela teria uma cidade ao seu redor. Mas até para parar é preciso se decidir.
Daqui há uma semana, Kali estará dormindo de tarde, tentando não sonhar com o que há para ela na semana que vem.
Sara Lee. Olha para as pessoas como suas paisagens prediletas. Passeia até se perder pelas pessoas, como suas voltas prediletas. Depois começa a buscar desesperadamente o rumo, como seus medos prediletos. Ama todo mundo, como seus desafetos prediletos. Ama todo mundo, como seus afetos malditos. Sara Lee nunca mais fugiu da briga, ela prefere olhar o mais fundo que a ressaca pode deixar nos olhos. Sara Lee nunca mais teve vômitos nem dor de cabeça, e quando não consegue dormir, limpa a casa. Ela lembra com carinho do tempo em que era expert em palavras cruzadas. Sara Lee gosta de meninos, e de poucas garotas. Algumas como essas meninas estranhas. Daqui há uma semana ela terá mais coisas para escrever. E continuará trabalhando, trabalhando, trabalhando pelo que é bem.

Thursday, February 16, 2006

Ela, quando não há silêncio

Um dia ela achou que um dia tudo estaria perdido ou confortável e fácil. Agora, ela gosta de beber vinho sozinha ao anoitecer. Fica com as patinhas de unhas roídas pra fora da janela, assistindo, acompanhando, esperando, fuma um cigarro, enrola uma das mechas do cabelo vermelho e grande, até que se vai. Aí ela pode fazer qualquer outra coisa. Ela só tem que pensar um pouco na vida todos os dias.
Gostaria que o seu nome fosse outro, mas já aprendeu a disfarçar. Os nomes, não o desgosto. Mas o coração, que ela já quis que fosse outro, esse, agora ela aceita, porque é preciso sobreviver com um mínino de dignidade.
Nada do que ela diz jamais será completo, eterno, suficiente, seja triste ou feliz. Ela recuperou a inocência querendo saber de tudo. Olhando pra tudo. Vendo como a agulha penetra a pele quando vão te tirar o sangue pra te examinar, dói bem menos. A gente se distrai com a beleza da própria resistência. Ela e algumas outras são meio loucas. Mas ela pensa que aprendeu a lidar bem com isso agora. E é como ganhar um grande prêmio e sair pra pescar.
Hoje e todos os dias ela tem os próprios motivos da vida inteira dela pra ficar triste.
Mas encontrou um cd que julgava perdido há muito tempo, desde antes de te-lo escutado. Então ela pensa em ficar na janela até que seja noite fechada. Hoje só um pouco mais, vendo um campo escuro, e ter fogos de artifício por dentro.

cum to get her

Ela é uma ponte ambulante. Ou uma andante pêncil. Ou uma serpente mordendo a propria cauda como roda de bicicleta. Sempre andando com um cigarro e um chiclete, as mãos nos bolsos pra esconder o que há escrito na palma e o que não há no bolso. Ela é uma garota chuvosa, do tipo capaz de ficar feliz por ter medo de temporal.
O que no fim das coisas não serve pra muita coisa.
Só para ter um próprio movimento.
Viciada em chocolate e capaz de enjoar, costuma fumar três anos e parar dois meses.
Pela janela do porão é o melhor jeito de entrar nesse país.
Com vontade de espiar, sem medo de encontrar quase nada ou demais.
Ela é uma moça sem casa, mas do lar. Ela é boêmia e indiscreta, mas resguardada.
Quando vc pensa que sabe tudo sobre a garota, ela descobre que não era nada daquilo.
Ela costuma andar pelas ruas da sua cidade pequena, ela odeia essa cidade, com um cigarro e um chiclete, ela ama essa cidade. Anda, anda, anda, caminhar parece uma penitência, de manhã cedo pra acordar, de noite pra acordar, de tarde pra fugir do tédio. Não dá tempo, nunca dá tempo de escolher, quando abre os olhos já mudaram seu mapa interno.
Ela só segue.
Nem sempre ela quer ir. Mas é preciso encontrar o lugar onde se está.
Ela gosta de quem anda.
E goza ao passear.
Ela não gostava de machucar as pessoas. Hoje em dia, ela não faz mais isso. Ela só vive e deixa respirar. Quem quiser sobrevive. Quem quiser não vai.
Ela só anda ao seu lado pra trocar umas histórias.
Ela não é ninguém que se possa parar.
As vezes ela queria, mas nem assim.
Sola do pé viciada.

Wednesday, February 15, 2006

para que nenhum sol seja demais

todos os meus amigos, as vezes voce quer que chova as vezes vc quer cinco minutos pra limpar a casa as vezes dá tanto medo de não ter o que fazer logo mais as vezes dá medo que nos façam demais as vezes tem que botar a roupa pra secar de noite as vezes as músicas vendem o significado as vezes se troca o significado das musicas e nem TUDO o tudo pode ser melhor do isso naquele momento as vezes os amigos não estão afim pra alguém as vezes não pra voce as vezes não dá vontade de ver ninguém (acontece bem menos hoje em dia) as vezes não significa desgostar as vezes não dá tempo de por acentos repetitivos as vezes a gente foge, de vez enquando todo mundo tem que ser um pouquinho só ruim, um pouquinho crente que é dessa vez, que é nesse ano que vai arranjar emprego que vai ter seu primeiro relacionamento pra saber do que falar com os amigos. as vezes se desliga o celular ou se guarda mensagens vazias. as vezes a gente se esconde atrás da porta, mas não é pra desaparecer. é pra brilhar mais, devagarinho.
as vezes a campainha vai tocar daqui a meia hora pra ver sua amiga querida.
as vezes, todo o tempo, é só de vezenquando.
pra TUDO

não começar outra vez

o sonho de todo o deserto é não começar.eu gosto de andar, as vezes o fim de semana inteiro, de pés descalços pela casa, de um comodo a outro, de um incomodo a outro, nada demais, ventilador sempre por perto, uma garrafa por perto, um daqueles na mão, um cigarro, perder o dia inteiro. no final eu registro no meu diário que foi um passeio pelo deserto.como eu dizia hoje para i., não se pode ficar usando a energia essencial de todas as parte do corpo ao mesmo tempo, cabeça, coração, braços, pele, estomago, pés.ultimamente não penso, não ando, não pego, não digiro, não amo.fico só na pele, sentindo sentindo, desde o vento até outra pele, só sentindo. como se fosse um grande verão sem praia. meu mar é um milharal, caipirinha é conhaque com coca cola, os caranguejos são os mortos; frescobol é contar histórias absurdas (e banalmente reais sobre cada um de nós), o chimarrão é a nossa erva e nós odiamos odiamos odiamos o sol, mas não vai chover tão cedo. então esticamos a noite.amor de praia? eu desencavo o mesmo que eu não tive aos dezesseis.se isso tudo nos basta? e se não? pra onde a gente vai? enfiar a cabeça (por emprego, diversão ou desespero) numa lata de cola?começar qualquer coisa poderia ser difícil se houvesse mesmo um plano de vôo. mas porque se enganar. nós estamos bem no meio de alguma coisa que nós causamos e consequenciamos, mas não pegamos, não ganhamos, não agarramos, não sabemos.não tem nada de errado pra nós no meio disso.talvez algumas coisas devem acontecer errado. por parâmetro ou expedição.
eu queria que valesse a pena ser bob dylan