paraísma

voce vai descascar a tinta das paredes do seu nome
voce vai voltar a se chamar outra vez
aquele homem
de antes de nascer
voce vai roer os cantos nas unhas do seu novo eu
voce vai amaldiçoar e renascer
como um rio somente
antes do trem
voce vai perder tudo o que fez até aqui
outra vez
e vai chorar o que ficar
voce será sua propria viúva
voce não tem pena e nem virá
a ter
porque tudo o que te é teu
te merece
porque tudo o que te é
teu
mar tece.
você, faz natal de páscoas.

eu deveria estar dormindo, porque tenho poucas horas pra dormir.
agora eu deveria estar dormindo, porque é uma das prováveis 5 horas que eu tenho pra dormir.
essa é uma hipotese média.
uma hipotese da média.
basicamente eu deveria estar dormindo porque minha filha finalmente dorme.
ela tem tosse.
eu deveria aproveitar e dormir porque afinal todos da casa estão dormindo.
quando eu era pequena, não bem pequena, nem pequena já meio grande, só pequena, tipo 10 anos, eu tinha medo de ir dormir por ultimo.
hj em dia eu penso que talvez isso fosse um presságio do medo da liberdade que talvez eu tenha escon
dido em mim. aposto que pelo menos um dos meus amigos que ler isto vai pensar "ahá, finalmente voce confessou, eu sempre disse que era isso". sim eu confesso.
se voce tiver um numero interessante de "amigos" sempre tem gente pensando de tudo sobre você.
o suficiente pra haver um eterno "ahá".
eu sei tanto de todo mundo.
ah ah.
eu deveria estar dormindo porque é sábado e eu de qq forma decidi não sair. coisa que eu realmente cogitei em um determinado momento, aproveitando a presença de babás pra guriazinha.
a guriazinha tah com tosse.
eu deveria ir dormir.
quando eu era pequena tinha medo de ser a ultima a ir dormir.
acho que é o medo legítimo do bicho papão, eu realmente achava que se eu pegasse no sono enquanto tivesse alguém acordado, ele não vinha.
tive uma afilhada que era amiga do bicho papão.
minha filha não tem medo do escuro, ela tem tosse.
mas agora, ela dorme.
como é bom quando ela tranquila, dorme.

passei a noite inteira sem dormir porque minha filha tossia.
ela dormiu, entre uma crise e outra.
eu, qdo não estava rezando pra algum deus que me ouvisse, estava ocupada demais curtindo o alívio dela respirar bem, ocupada demais me tranquilizando pra poder dormir.
daí ela tossia e começava tudo de novo.
perto da manhazinha, eu dormi duas horas.
de manhã, antes do café, barriga mole, rugas, nebulização, falta de sexo em pauta, as roupas que caem do armário, o armário com esqueletos, os esqueletos empoeirados, risadas, nós todos nos amamos, mas as vezes nem se sabe como.
o homem do taxi tem pena de nós, de mim, porque tenho que deixar minha filha na creche.
a sara não se importa, ela dorme e aproveita os minutos de nós duas juntas.
a sara me sara.
espero que ela se cure.
atrasada dentro do taxi, vejo as pessoas que veem um moço que vai se atirar do prédio mais alto do centro.
que noite terá sido a sua?

um rockinho

i wanna a mars living
i wanna fuck driving
i want to bleed lunatics
i wanna coke diving
i want some big blue balls
i want my chest on the walls
i want to sing in english
i wanna a mars living

ser mãe pode ser uma disposição da mente
mas é sempre um acontecimento orgânico.

de manhã, quando te deixo no portão da creche
te beijo e vou bem feliz
e minha cabeça decide que me sinto mesmo assim.

no muro meu coração se dobra,
se guarda,
fundo-abisma,
e eu desmaio perto dali.

hoje acordei enxergando pior.
como se houvesse algo instituido entre eu e o mundo.
como se o véu virasse muro esbranquiçado
a fumaça do que não vem se falando
ontem eu lembrei q faz tempo que parece que eu não me importo mais
e nunca importou tanto.
hoje acordei enxergando pior
um problema de ponto fixo,
um problema de ponto de vista
um problema de foco.
nem sempre vale a pena trocar a lente pra salvar a máquina
só se voce tiver mesmo muito apego emocional a essa vida.

sara na creche

ela vai facil, simples, a cor de um passeio mesmo sabendo q não.
do lugar mais alto dos seus cinco meses
melhor do q ninguem
vive
o pra frente é q se vai.
eu q antes era só parada
agora danço tudo
sem sair do lugar.
e treino abraço telepático
onipresença sem santidade
pedaços do meu amor nas células do teu ar