Thursday, February 16, 2006

Ela, quando não há silêncio

Um dia ela achou que um dia tudo estaria perdido ou confortável e fácil. Agora, ela gosta de beber vinho sozinha ao anoitecer. Fica com as patinhas de unhas roídas pra fora da janela, assistindo, acompanhando, esperando, fuma um cigarro, enrola uma das mechas do cabelo vermelho e grande, até que se vai. Aí ela pode fazer qualquer outra coisa. Ela só tem que pensar um pouco na vida todos os dias.
Gostaria que o seu nome fosse outro, mas já aprendeu a disfarçar. Os nomes, não o desgosto. Mas o coração, que ela já quis que fosse outro, esse, agora ela aceita, porque é preciso sobreviver com um mínino de dignidade.
Nada do que ela diz jamais será completo, eterno, suficiente, seja triste ou feliz. Ela recuperou a inocência querendo saber de tudo. Olhando pra tudo. Vendo como a agulha penetra a pele quando vão te tirar o sangue pra te examinar, dói bem menos. A gente se distrai com a beleza da própria resistência. Ela e algumas outras são meio loucas. Mas ela pensa que aprendeu a lidar bem com isso agora. E é como ganhar um grande prêmio e sair pra pescar.
Hoje e todos os dias ela tem os próprios motivos da vida inteira dela pra ficar triste.
Mas encontrou um cd que julgava perdido há muito tempo, desde antes de te-lo escutado. Então ela pensa em ficar na janela até que seja noite fechada. Hoje só um pouco mais, vendo um campo escuro, e ter fogos de artifício por dentro.

0 Comments:

Post a Comment

<< Home