Thursday, January 28, 2010

senhor sal, vc fez dessas coisas....

Senhor Sal, quando eu era adolescente, escrevi um livro, de título comprido e um home-made-blues-rotina pior ainda,
Enfermas linhas de fuga, era o nome da publicação e só estou contando algo tão constrangedor porque tirar a roupa na sua frente, seus 91 anos óbitos e os meus 31 mal cuidados, seria mais assustador para ambos.
Imagino que as suas groupies em geral sejam mais do tipo que lhe dedicam livros e contos e cartas imaginárias ao invés de solicitarem o bom e velho autógrafo nos peitos.
Eu pelo menos te amo o bastante pra desejar que tenhas tido mais dessas, as gostosas, e menos de nós, as chorosas.
Retomo o livro: embaraçoso como tentar escrever sobre qq coisa na adolescência, caixinha de letras onde dei um jeito de enfiar tudo o que eu sentia que sabia ou sabia que sentia, um grande nada que é a escuridão de quem mal aprendeu a limpar a bunda direito
e pretende saber alguma coisa.

A única verdade é que, naquele tempo, meu nome do meio era solidão e ela ficava muito mais gostosa quando eu sentava no terraço da casa dos meus pais e ficava vendo o Rio Taquari correndo bruto do outro lado da rua, e fugia por ti, pela tua mão naquelas palavras que ficava lendo e relendo e mascando com chiclete de alma de água suja.

Meu tal livro embaraçoso, teve sua meia dúzia de leitores amigos, e volta e meia angaria algum curioso. Houve quem imaginasse que havia ali uma proto escritora – não sei, os anos se passaram e acho que adolescentei melhor do que escrevi, mas viver tb é um modo de contar – o certo é que ninguém sabe que há nesse livro uma fantasia erótica de menina toda tua,
que te daria toda a doçura
com qq perversidade escolhida
por uma nova história sua.

Acho que nunca escrevi, nem escreverei, nada tão erótico outra vez. E como nunca fiquei pelada coberta de merengue pra voce, nem fui capaz de deixar claro o que eu queria realmente contar na história (o pudor como um desfavor a arte) me entrego agora, solenemente:
eu queria ter sido sua fatia de torta.

Thursday, January 21, 2010

para os labirintos de Daniel

http://danielsilvestredasilva.blogspot.com/

No dia em que tudo doía, o moleque acordou

mas algo dentro dele não.

Saiu da cama, abriu a cabeça e tirou o que tinha lá dentro.

Ventava na mente;

um ar com ácidos de limão bravo com o próprio amargo,

um ar de saco cheio do próprio vazio,

um ar de vou te pegar

sem tirar os pés do azar.

Nas terras mais ventres do rapaz, o umbigo por dentro fazia-se de serpente

com capa e espada de sutil mentir

que eram as tripas enroladas

o que ardia por ali.




Mas V.I.T.R.I.O.L.* -

sem hora vitrola -

pela tarde se desenrole,

senhora com sonho-vitrola nublado em paz,

que de todos os caminhos que existem

sobra mesmo é o mapa de cavar dentro da casa do peito

um espaço pra vida

que existir até em branco espelho.




O moleque é quem SE viu primeiro.




* “Visita Interiorem Terrae, Rectificandoque, Invenies Occultum Lapidem”. Ao pé da letra isto significa: “visita o interior da terra e, retificando-te, encontrarás a pedra oculta”.