Tuesday, April 04, 2006

33...historinhas...tanto

..."o mito revela a sacralidade absoluta, porque conta a atividade criadora dos Deuses, desvenda a sacralidade da obra deles." - mircea eliade

quando passam as marcas, eu volto a usar decote, mas odeio o tom erótico do ato. não tenho peito pra isso. é só uma caixa que guarda as bombinhas de ar e o músculo aquele. Coração, ele-aquele. ahahah, tente mesmo viver sem o seu. eu já tentei. para tudo, vc morre. eu tive um ataque cardíaco aos 33.
para tudo, voce morre.
dizem, os outros que já passaram por isso e voltaram, que dói. o meu não, era só como se expremessem uma laranja inteira, eu senti meu suco gotejando por dentro. não doeu, só foi dando falta de mim mesma, eu sabia que estava indo. não, eu não vi nada lá, não tinha ninguém me acenando, ou tinha e eu não vi.
estava ocupada demais sentindo as minhas gotas, caindo, uma por uma, indo parar no escuro. Devagarzinho, eu me economizava por que era bom.
se gastar com vagar.
nos três ultimos pingos de vida, eu já tinha dominado a técnica de me segurar.
aí eu me assustei por ser tão pequena e tão grande. e como quando vc sonha que está voando, se assustar é a senha pra voltar. foi o assombramento do tamanho e os choques que me troxeram de volta, ao mesmo tempo, eu caí de resto e me arrancaram de lá a cinco centímetros do chão, como voar pra baixo e cair pra cima, fugir do silêncio agarrando um zunido.
eu voltei.
dizem, os outros que já passaram por isso e voltaram, que tudo muda. mas de um jeito profundo, existencial.
eu não. só ganhei umas manchas que aparecem no peito quando eu sinto demais.
então quase sempre eu não uso decote. e também odeio o que há de exibicionismo pra isso.
mas quando estou limpa de novo, eu preciso botar minha árvore e sua única gota restante mais perto do sol,
eu tenho ainda só um pouquinho no coração, mas quando isso toma ar, vira quatro estados da água.

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