Wednesday, August 06, 2008

sem esperas nem surpresas,
voce escuta o barulho dos meus dedos teclando junto com os pingos de chuva
e como eles
lavando uma terra sem ninguém?

Friday, August 01, 2008

sino da manhã

eram noves horas da manhã de sexta-feira e alguém passando por lá num táxi veria um homem com a cabeça descoberta, as mãos pra cima e ao lado seu guarda-chuva aberto, virado na calçada, recolhendo chuva ao invés de rebate-la.
alguém tentando telefonar para esse homem ouviria o senhorio perguntar muito mal humorado e ameaçador "você é o que dele" pronto para, ao primeiro sinal de intimidade, desfiar um rosário de imprecações, cobranças e reclamações.
ele era alguém de que não se deveria chegar perto
"ele devia ser isolado com leprosos, ele nem se limpa quando caga", foi o que de mais gentil disse o senhorio.
ele não tinha nada, ele não faria falta
ele parece que nunca mais teve juízo.
ele come terra.
e as vezes aparenta se matar.
desde que ela morreu, ele não tem mais motivo nenhum para não ser quem é.