nuclear para crianças
chernobyl não fez cogumelo, nem sol. só se espalhou, e derreteu a vida de um monte de coisas. e assim como são as coisas, são as pessoas.
foi lá longe daqui, aqui ninguém pegou isso não, mas tem outras coisas que derretem partes do corpo e do futuro das pessoas. só que essas coisas não tem um nome pronto e por isso ninguém fala delas.
ninguém fala delas porque não sabem que cor elas tem.
ninguém fala delas pq são como assuntos a serem tratados em alemão arcaíco.
ninguém fala pq elas, como feridas de pele frágil com leite de figo por cima
vão estourar no sol.
estourar no sol, mas de um jeito triste e frio, não como uma fruta que explode madura antes de cair. é como uma fruta verde que depois da pedrada só mostra uns bichinhos desnutridos.
tem outras coisas que estancam as crianças.
coisas que acontecem com as barrigas de suas mães, coisas que acontecem na pele dos pais.
coisas que as permanecem grudadas, no mesmo ponto da infância.
coisas que atrofiam os braços de subir em árvores,
o estômago de gostar de comer de tudo, até poeira,
coisas que paralizam os pulmões
que nunca mais vão experimentar o ar direito.
existem coisas que não minimizam danos para nos podar até caixinha.
mas crianças, não se assustem.
sempre restarão as minhocas. as minhocas são os únicos animais da terra que não possuem, não carregam nem transmitem doenças. e eles transformam lixo em adubo, e fazem furinhos na tera pra ela respirar,
plantem dez minhocas no meu coração
vai nascer uma árvore de peixe-estrela.
as minhocas vieram primeiro, e elas sabiam voar, mas não brigavam.
agora eu sonho com minhocas de chumbo, plutônio e mercúrio. que me guardem e lavem amém.